O apóstolo Paulo desejou ardentemente chegar à cidade de Roma, a capital do império romano. Ele já tinha feito três grandes viagens missionárias, nas províncias da Galácia, da Macedônia, da Acaia, da Ásia menor, e agora ele queria ir à Roma, e a partir da cidade de Roma seria enviado pela igreja de Roma até a Espanha. Esse era o seu projeto pessoal, esse era o seu desejo de ministério. Entretanto, as circunstâncias foram bem diferentes, ele chegou na verdade em Roma, mas não chegou como queria chegar; chegou preso, chegou algemado, chegou para ficar no corredor da morte. E apesar desta providência tão carrancuda, o apóstolo Paulo vai testemunhar na sua carta aos filipenses (capítulo 1, versículo 12), que todas essas coisas contribuíram para o progresso do Evangelho. Esse homem não olhava para a vida em termos de casualidade, de coincidência, ele sabia que Deus está no controle, que Deus é soberano, que Deus não perde o rumo dos acontecimentos da nossa vida porque a situação está difícil, ou amarga, ou perigosa.
Então, nessa carta aos Filipenses, ele vai dizer que em virtude da sua prisão em Roma, três coisas aconteceram: primeira, as igrejas foram mais encorajadas a pregar; segunda, toda a guarda pretoriana, ou seja, a soldadesca de elite do imperador romano, eram 16 mil soldados da mais alta patente, tomaram conhecimento das suas cadeias em Cristo. Em outras palavras, ele ficou dois anos presos ali, do ano 61 ao ano 63 depois de Cristo, e por ser um cidadão romano, e estar sob a égide do imperador, em três turnos por dia, tinha um soldado algemado com ele; e nesse tempo então, Paulo testemunha para esse soldado, que ficava algemado a ele em rodízio, sobre a graça de Deus, sobre a pessoa de Cristo. Ao cabo de dois anos, toda a guarda pretoriana estava evangelizada. E em terceiro lugar, não podendo ele visitar as igrejas, começou a escrever cartas, as cartas da primeira prisão: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon. Agora, quando Paulo está escrevendo esta carta à igreja, aos filipenses, à igreja de Filipos, preso em Roma, ele termina esta carta dizendo assim, no capítulo 4, verso 22: “Todos os santos vos saúdam, especialmente, os da casa de César”.
E essa verdade tão gloriosa enseja-nos algumas importantes lições: primeira, não é o lugar que faz você, não é a circunstância que faz você, é você que faz o lugar. Paulo poderia chegar ali preso e dizer: eu queria chegar tanto em Roma como missionário, agora estou aqui preso, agora estou aqui algemado. Ele poderia mergulhar nas águas turvas do pessimismo e até da depressão, ele poderia se sentir uma pessoa injustiçada e até ficar com o coração amargo, porque as circunstâncias de fato eram adversas, eram difíceis; mas Paulo não permitiu que as circunstâncias determinassem seus sentimentos e suas ações, ao contrário, ele transforma aquela circunstância num cenário novo de testemunho do Evangelho. Ele nunca se sentiu um prisioneiro de César, ele sempre dizia: sou prisioneiro de Cristo, sou um embaixador em cadeias. Ele transforma sua prisão num campo missionário, e vai alcançar através desse campo missionário a elite militar de Roma. Se ele estivesse solto, certamente ele jamais teria alcançado a guarda pretoriana, os solados de elite do imperador Nero.
Segunda coisa que é importante destacar, é que não existem pessoas descartáveis para Deus. Talvez alguém pensasse: bom, esses soldados são homens pagãos, são homens politeístas, são homens secularizados, são homens que não são afeitos à religiosidade; mas Paulo entendeu que aquelas pessoas poderiam ser alcançadas pelo evangelho. Não importa onde você mora, não importa onde você trabalha, não importa para onde a providência de Deus leve você, onde você está, pode ser um campo frutífero para evangelização, para o testemunho do evangelho, você pode influenciar as pessoas à tua volta, ainda que as pessoas sejam hostis a você, você pode impacta-las com o poder do testemunho, com o poder do evangelho da graça de Deus.
Mas em terceiro lugar, note bem isso: é muito importante você entender que Deus pode transformar o cenário mais hostil da sua vida no cenário mais abençoado da sua existência. Sabe o porquê? Porque a casa de César era um antro de corrupção, a casa de César era um antro de violência, de promiscuidade. Nero, que nessa época era o imperador, era um homem devasso, era um homem violento, um homem completamente rendido aos vícios mais humilhantes e vergonhosos; ele mandou matar a sua própria mãe, por exemplo. Mas, nesse cenário de traição, de corrupção, de violência, de promiscuidade, Paulo transforma esse mesmo cenário num campo de evangelização, num campo de testemunho e vê as dezenas, as centenas, aos milhares, esses soldados, que circulavam pelos corredores do palácio, levando-os a Cristo, a uma mudança de vida, a uma transformação de vida; e esses soldados, agora saúdam a igreja de Filipos: os santos vos saúdam, especialmente os da casa de César.
Finalmente, é muito importante você entender que no Reino de Deus não tem lata de lixo; as pessoas mais degradadas, as pessoas rendidas aos vícios mais terríveis, as pessoas que estão capituladas a desdita da vida ou prisioneira dos vícios mais opressores, ou do engano religioso mais avassalador, essas pessoas podem ser transformadas, essas pessoas podem ser perdoadas, essas pessoas podem ser salvas, e você pode ser um instrumento nas mãos de Deus para levar a essas pessoas ao conhecimento do evangelho. O grande desafio portanto é este: floresça onde você está plantado; não reclame da casa que você mora, do bairro que você mora, da cidade que você mora, não reclame do trabalho que você tem, do ambiente do seu trabalho; quem sabe Deus colocou você aí, exatamente para um propósito especial: de você ser testemunha do Senhor Jesus Cristo, e de você ver os milagres da graça de Deus, transformando vidas, operando maravilhas, e quem sabe, você possa, como Paulo, ver os milagres do poder do evangelho, operando eficazmente, na vida das pessoas.
Todos os santos vos saúdam, especialmente os da casa de César. A graça do Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito. Filipenses 4.22-23
Rev. Hernandes Dias Lopes