“Então, a mulher disse a Elias: Nisto conheço agora que tu és homem de Deus e que a palavra do Senhor na tua boca é verdade.”
(1 Reis 17:24)
Elias é uma das figuras mais emblemáticas da Bíblia. Este homem foi levantado por Deus em sua nação num dos períodos mais sombrios da história do seu povo.
Depois de 120 anos de reino unido, sob o comando de Saul, Davi e Salomão respectivamente, agora nação é rasgada: há crise interna, uma luta entre as tribos, e o Reino do Norte (chamado de Israel, cuja capital era Samaria) já estava no sexto reinado. A crise era medonha; cada rei que sucedia o outro era pior do que o antecessor. Até esse período, dois reis foram assassinados e os assassinos assumiram o governo. Agora, reina em Israel o pior rei da história, Acabe, que juntamente com a sua mulher, Jezabel, começaram um processo de perseguição e matança aos profetas de Deus.
O culto a Baal, um ídolo abominável, foi posto à força da espada e da baioneta. É nessa conjuntura de decadência religiosa, política, moral, que Deus levanta não um partido político, não uma denominação religiosa. Deus levanta um homem. Deus levanta Elias.
Elias é de um lugar desconhecido (ele vem de Tisbé). Ele não vem de uma família rica, aristocrática. Ele não procede de uma escola de profetas nem de uma família sacerdotal. Ele é um homem desconhecido, de um lugar desconhecido, de uma família desconhecida, mas um homem levantado por Deus para impactar a sua nação.
Elias começa o seu ministério confrontando o rei Acabe lá no palácio, trazendo uma palavra de juízo à nação, dizendo que nos próximos três anos e meio não haveria chuva nem orvalho em Israel. Com isso, Deus estava quebrando as pernas deste ídolo, Baal, porque ele era considerado o padroeiro da prosperidade. Em não havendo chuva, não há colheitas; em não havendo chuva, os rebanhos perecem; em não havendo chuva, a economia entra em colapso.
Mas depois dessa palavra de juízo, Deus ordena a Elias esconder-se junto à torrente de Querite, e Deus o sustentou ali de forma milagrosa durante esse período. Isso nos ensina que muitas vezes na jornada da vida Deus nos leva para o deserto.
O deserto não nos promove, o deserto não nos enaltece, o deserto não acende as luzes da ribalta, o deserto apaga os holofotes. Mas, o deserto não é um acidente de percurso; é uma agenda de Deus. Quando Deus nos leva para o deserto, ele está trabalhando primeiramente em nós, para depois trabalhar através de nós. Quando Deus nos matricula na escola do deserto, a Escola Superior do Espírito Santo, precisamos aprender a depender do Provedor mais do que da provisão. Então, ali está Elias, escondido, sendo tratado por Deus para depois ser usado por Deus.
Depois desse período tão crítico, Deus dá uma ordem a Elias para sair de Querite e ir para Sarepta, dizendo que lá uma viúva lhe sustentaria. Então Elias, sabendo que Acabe o procurava, vivo ou morto, em Israel e fora de Israel, põe o pé na estrada, porque o Deus que ordena e comissiona é o Deus que protege.
Quando ele chega em Sarepta, a mulher que deveria sustentá-lo está morrendo de fome. Deus, às vezes, nos coloca nessas providências carrancudas. Porque Deus ainda está trabalhando em nós, para depois trabalhar através de nós. O que é curioso é que a viúva que haveria de sustentar Elias tem provisão apenas para mais uma refeição, e depois, acabou, não tem mais nada. Mas, aquela viúva conheceu a Deus na cozinha, porque Deus multiplicou a farinha na sua panela e o azeite na sua botija. O nosso Deus é o Deus da providência. É ele quem nos dá a vida, a respiração e tudo mais. Nele vivemos, nos movemos e existimos. Ele é quem cuida de nós; ele é quem nos dá a vida; ele é quem nos dá o sustento; se ele fechar a torneira do oxigênio, nós caímos e viramos pó. De nada adiantaria termos dinheiro, se os campos não produzem mantimento; é Deus que nos sustenta.
Deus opera o extraordinário no ordinário da vida. Porém, na mesma casa em que acontece um milagre, também acontece uma tragédia. Não é verdade que, se você se tornar um cristão piedoso, você não vai ter problemas na vida, ou que você não vai enfrentar dificuldades financeiras, de saúde, ou mesmo o luto. O filho único daquela viúva adoece e morre.
Talvez você esteja lidando com a dor do luto. Talvez as lágrimas quentes rolam no seu rosto. Talvez você esteja no vale mais escuro da sua jornada.
O que é curioso, é que esta mulher colocou a culpa da morte do seu filho único em Elias. Elias não se defendeu. Elias entendia que não se esmaga cana quebrada, nem se apaga a torcida que fumega; que não se tripudia sobre aqueles que já estão sofridos e feridos pelos reveses da vida. Mas Elias tomou uma decisão: ele pegou o menino morto, levou-o para o seu quarto, e diz a Bíblia que ali, ele que se calou para se defender, agora clama aos céus pedindo um milagre de Deus para ressuscitar o menino. E Deus faz o imponderável, o impossível, o improvável e ressuscita o menino.
Eu fico imaginando Elias, saindo com uma prova viva do milagre de Deus nas mãos. Hoje, infelizmente, algumas pessoas fazem propaganda de milagres que nunca aconteceram. Elias não era desse tipo de pessoa. Ele não colocou outdoors na cidade dizendo quão grande homem ele era, ele não chamou uma coletiva de imprensa para se autopromover, ele não aplaudiu a si mesmo, nem fez um solo do hino “Quão Grande és Tu” diante do espelho. Elias simplesmente devolve o menino à sua mãe e diz: — O teu filho vive!
É nessa conjuntura que a viúva de sarepta diz para Elias: — Agora eu sei que tu és homem de Deus, e que a palavra do Senhor na tua boca é verdade.
Destaco aqui dois aspectos dessa declaração da viúva de sarepta:
Primeiro: como nós somos conhecidos.
Há homens ricos, há homens influentes, há homens com muito poder nas mãos, porém, parece-me, escasseiam-se os homens de Deus. Parece-me que está raro hoje você conseguir encontrar alguém de quem você possa dizer “aí está um homem de Deus!”. Elias era um homem de Deus.
Mas, essa mulher disse algo maior ainda. Ela disse assim: – Agora eu sei que a palavra do Senhor na tua boca é verdade.
Isso significa que, nem todos que proferem a palavra de Deus, são boca de Deus. Uma coisa é proferir a palavra de Deus, outra coisa muito diferente é ser boca de Deus. Lá em Jeremias 15:19, diz assim: “Se tu te arrependeres, eu te farei voltar e estarás diante de mim; se apartares o precioso do vil, serás a minha boca”.
É curioso que os maiores e melhores sermões da história que foram pregados: seja o sermão de Pedro em Jerusalém, seja o sermão de Paulo em Atenas; sejam os sermões de João Crisóstomo e Aurélio Agostinho, de Lutero, Calvino, Jonathan Edwards, Charles Haddon Spurgeon, ou Billy Graham; nós temos esse sermões disponíveis hoje. São sermões que Deus usou para a conversão de centenas, milhares de pessoas. Se nós pegarmos os mesmos sermões para pregá-los na íntegra, o resultado certamente não será mais o mesmo. E, por que não? Porque Deus não unge métodos, Deus unge homens. Nós estamos à procura de melhores métodos; Deus está à procura de melhores homens.
Não adianta você falar sem o poder do Espírito, porque os nossos lábios são lábios de barro. Então, Elias ensina-nos que é possível mesmo hoje, sermos também boca de Deus. A pergunta que eu lhe faço é esta: Você é boca de Deus? Quando você fala, Deus está falando por seu intermédio? Há virtude do Espírito Santo? Há Poder de Deus na sua vida? Você está revestido com o poder do Espírito Santo? Você está cheio do Espírito Santo? Você transborda do Espírito Santo? Quando você abre a boca a palavra de Deus é verdade na sua boca? Você poderia também ser chamado hoje de boca de Deus?
Talvez a maior necessidade da Igreja, talvez a maior necessidade da nação brasileira, é que se levantem novos Elias que confrontem o rei, que confrontem o povo, que confrontem os profetas de Baal, mostrando-lhes a necessidade de sair de cima do muro: se Deus é Deus, servi-o; se Baal é Deus, servi a Baal, mas não pode ficar em cima do muro! É preciso homens que tenham coragem de confrontar as fortalezas do mal; homens que tenham coragem de enfrentar todas as hostes do mal; homens que tenham coragem de demonstrar que só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!
Eis o desafio: de nós, confrontados pela vida e pelo ministério do profeta Elias, rogamos ao Senhor que envie novos Elias para a nossa geração. A pergunta hoje não é apenas “Onde está o Senhor, Deus de Elias?”; a pergunta é: “Onde estão hoje os Elias de Deus, que possam dizer: “eu sou boca de Deus”?”.
Rev. Hernandes Dias Lopes