Da morte para a Vida

O apóstolo Paulo estava preso em Roma (na sua primeira prisão),  quando escreveu a carta aos Efésios. Ele passou três anos naquela grande metrópole que é capital da província da Ásia Menor, onde o plantou uma igreja relevante, missionária, e agora ele escreve esta carta àquela igreja. E nesta carta, Paulo trata da doutrina da salvação, como Deus planejou nossa salvação na eternidade – o Pai elegendo, o filho redimindo com seu sangue, e o Espírito Santo selando para o dia da Redenção e sendo nos dado como penhor, como garantia de que a nossa salvação está assegurada.

Agora no capítulo 2, ele vai mostrar como esta salvação acontece historicamente. Eu quero aqui, nesta meditação com você, repartir com você quatro verdades desse texto de Efésios 2.1-10. A primeira verdade que salta aos nossos olhos é que o pecado trabalha contra nós. Paulo diz que Deus nos deu vida estando nós mortos nos nossos delitos e pecados. Nós andamos segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, fazendo a sua vontade e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais. De tal forma que o pecado tenazmente nos assedia e o pecado escraviza as pessoas – Paulo está dizendo que o homem é escravo do diabo, do mundo e da carne.

O homem antes da sua conversão, da sua regeneração, ele está sob o domínio, controle de forças espirituais malignas, ele é escravo do sistema que ele chama mundo e ele é dominado, controlado pela sua própria natureza caída, adâmica (que a bíblia chama de ‘carne’). Essa escravidão é total porque o homem não tem condições de livrar a si mesmo, de libertar a si mesmo, de se ver livre dessas amarras, dessas algemas, desse cipoal espiritual. A consequência dessa tríplice escravidão – do diabo, do mundo, da carne – é que o homem está, não apenas depravado, mas ele está também condenado como filho da ira. Paulo chega afirmar no verso 1 que o homem está morto nos seus delitos e pecados, em outras palavras – ou Deus salva o homem, ou ele não pode salvar a si mesmo, ou Deus traz vida na sua morte, ou morto não pode ressuscitar a si mesmo.

É por isso que nós entendemos a luz das escrituras que a salvação é uma obra exclusiva de Deus – de A ao Z, de Alfa ao Ômega – a salvação é uma obra de Deus. O homem não pode salvar a si mesmo, o homem não tem condições de pôr si mesmo escolher a Deus, porque ele está morto. Morto não sente, morto não deseja, morto não age, ou ele recebe vida, ou ele continua morto. Pois, este é o estado do ser humano: grandes, pequenos, ricos, pobres, doutores, analfabetos, religiosos, não-religiosos, o homem no seu estado natural não pode, não deseja, não sente, não quer Deus- está morto em seus delitos e pecados. Então a primeira verdade que esse texto traz para nós, uma verdade grave, soleníssima, é que o pecado trabalha contra nós. 

Porém uma segunda verdade que eu quero enfatizar nesse texto é que se o pecado trabalha contra nós, Deus trabalha por nós, e esta verdade está posta nos versos 4 a 9 desse texto: “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos” (Efésios 2:4,5).

Então Paulo vai mostrar para nós que a salvação é uma obra da graça, porque apesar da nossa situação terrível de depravação, de condenação, de escravidão, de morte, Deus lançou em nós o seu coração cheio de misericórdia e por sua graça nos salvou, nos perdoou, nos redimiu, nos limpou, e nos fez assentar com Cristo nas regiões celestes, acima de todo principado e potestade. E Paulo vai afirmar que “pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.”

Aqui tem três verdades que eu quero destacar: primeiro, a graça é a causa meritória da nossa salvação. O que é graça? Qual o conceito bíblico de graça? Graça é um favor, é um dom é uma dádiva para quem não merece, me permita ilustrar: Um professor cuidava de alguns alunos muito carentes de um bairro socialmente muito sofrido, e ele abriu uma classe para ensinar a Bíblia para essas crianças e elas vinham, domingo após domingo. Aquele professor percebeu que uma das crianças estava com as roupinhas rasgadas, com os pés descalços, uma situação social muito carente.

Ele resolveu ir numa loja comprar roupas, calçados, brinquedos, e começou então a subir um morro onde havia muitos barracos de pessoas, também muito carentes. E na medida que foi subindo, ele foi surpreendido Alguém joga uma pedra atingir a sua cabeça, ele cai desmaiado, sangrando e quem jogou a pedrada nele, catou eles presentes levou para casa. Ele voltou quando melhorou, à loja e comprou novas roupas, novos calçados, novos brinquedos, voltou a subir, até chegar na casa daquele menino e bateu a porta. O pai muito constrangido foi à porta atender e o professor disse: eu vim trazer esses presentes para o seu filho, e o pai, tomado de uma consciência de culpa pelo filho, disse: Mas foi o meu filho que jogou aquela pedra, meu senhor, e o meu filho não merece esses presentes. E o professor respondeu: o seu filho não merece esses presentes, mas o seu filho precisa desses presentes. Pois isto é graça, é um dom imerecido.

Nós pecamos contra Deus, nós nos insurgimos contra o amor de Deus, nós tantas vezes ultrajamos a bondade de Deus. E Bíblia diz que Deus nos amou quando éramos ímpios, fracos, pecadores e inimigos. Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Apesar de nós, Deus nos amou. A graça não vêm para aqueles que merecem, porque a Bíblia diz que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, não há justo nenhum sequer. Apesar de nós, Deus nos amou. Deus não amou você por causa das suas virtudes e dos seus méritos, mas apesar dos seus deméritos. A causa do amor de Deus por nós não está em nós mas está em Deus: pela graça sois salvos, diz o apóstolo Paulo. Se não vem de vós é dom de Deus, não de obras, para que ninguém se glorie.

Então a fé é um instrumento de apropriação da graça, a fé é a causa instrumental e não a causa meritória. Não somos salvos por causa da fé, somos salvos por causa da obra de Cristo na cruz, mas nos apropriamos desta obra pela fé. A fé é a mão de um mendigo estendida para receber o presente de um rei – o presente é a vida eterna, a graça é o dom imerecido, e a fé é o instrumento de apropriação.

Mas agora esse texto nos leva para uma terceira verdade. O pecado trabalha contra nós, Deus trabalha por nós, mas a terceira verdade é que Deus trabalha em nós. Paulo vai dizer no verso 10 que nós somos feitura dele, criados em Cristo Jesus. Deus muda a nossa história, Deus muda o nosso coração, Deus muda a nossa mente, Deus muda a nossa vida, Deus muda o nosso futuro, nosso destino. Deus transforma a nossa vida tornando-nos novas criaturas. A palavra grega para feitura é a palavra ‘poema’ a palavra “poiél” de onde vem a palavra poema. Nós somos o poema de Deus.

Talvez você olhe para sua vida agora, e diga assim: bom mas a minha vida, se é um poema, está sem rima, está sem sonoridade, está sem harmonia. É que Deus ainda está escrevendo, é que Deus ainda está compondo esse poema. Agora Deus está transformando você, de glória em glória, na imagem de Cristo, Senhor. Então calma, tenha paciência. A obra não foi concluída ainda, mas eu preciso lhe dizer que Deus não vai largar você no meio do caminho Aquele que começou boa obra em você vai completá-la até o dia de Cristo Jesus.

Mas a quarta verdade desse texto que eu quero destacar, é que se o pecado trabalha contra nós, se Deus trabalha por nós, se Deus trabalha em nós, agora em quarto lugar, Deus trabalha através de nós, porque o texto nos diz que nós somos feitura dele, criados em Cristo Jesus, para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou, para que andássemos nelas. Ou seja, as boas obras não são a causa da nossa salvação, mas as boas obras são a evidência da nossa salvação.

Nós não praticamos boas obras para sermos salvos, nós as praticarmos porque fomos salvos pela graça. A salvação não é pelas obras, a salvação não é pela fé mais as obras, a salvação é só pela graça mediante a fé, mas, para as obras, de tal maneira que nós evidenciamos a salvação pela graça através da prática das boas obras. É por isso que Tiago diz que a fé sem as obras é morta, porque a verdadeira fé produz obras.

Então eu deixo com vocês a temática da morte para a vida – Deus nos tirou da morte e nos conduziu à vida, nos dando a vida eterna. Você hoje pode tomar essa decisão, hoje você pode reconhecer-se pecador, confessar os seus pecados, se arrepender, por sua confiança em Jesus, e receber dele o presente, glorioso presente, da vida eterna. Essa é a maior decisão que você pode tomar na história, na vida – é a decisão de consequências eternas.

Rev. Hernandes Dias Lopes