Ouvindo-o Eliabe, seu irmão mais velho, falar àqueles homens, acendeu-se-lhe a ira contra Davi, e disse: Por que desceste aqui? E a quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? Bem conheço a tua presunção e a tua maldade; desceste apenas para ver a peleja.
Respondeu Davi: Que fiz eu agora? Fiz somente uma pergunta.
Desviou-se dele para outro e falou a mesma coisa; e o povo lhe tornou a responder como dantes.
1 Samuel 17:28-30
Não é fácil lidar com as críticas. Nem sempre os críticos nos amam, porque a crítica feita por aquele que nos amam é bem-vinda, as feridas feitas pelo amigo trazem cura melhor do que as palavras de bajulação, que são macias como manteiga mas que ferem como espada. O texto que vamos observar hoje retrata uma guerra que Israel travou com os filisteus. Estavam enfileirados – os soldados de Saul de um lado, e do outro lado os soldados filisteus. Foi quando do lado dos filisteus surge um gigante, o gigante Golias, ele desafiou os soldados de Israel da seguinte maneira: não é preciso lutar dê-me um homem para lutar comigo, se eu vencer vocês nos servirão e se ele me vencer nós serviremos a vocês e esse duelista, o Gigante Golias, durante 40 dias, duas vezes por dia, afrontou as tropas de Israel e todos fugiram de medo por 40 dias, duas vezes por dia.
Neste ínterim, chega neste acampamento Davi, e ele quer saber o que está acontecendo, porque ele chega na hora da debandada geral, e informam a ele que tem um gigante, um duelista, que está afrontando os soldados de Saul e ninguém tem coragem de enfrentá-lo. Davi então pergunta: mas quem é esse incircunciso filisteu para afrontar os exércitos do Deus Vivo? E Davi se dispõe a enfrentar aquele gigante. É nesse momento que seu irmão mais velho – Eliabe – num processo amargo, critica Davi e critica de forma severa e impiedosa. E aqui eu gostaria de, a luz do texto, extrair algumas lições:
Primeiro, a crítica dói e dói mais quando ela vem daqueles que deviam estar do nosso lado e estão contra nós. Eliabe era irmão de Davi, carne de Davi, sangue de Davi, que devia estar do lado de Davi e não contra ele. Quando a crítica vem de um estranho não machuca tanto mas quando ela vem daqueles que convivem conosco, são próximos a nós, às vezes até aparentados, isso nos machuca mais profundamente.
Em segundo lugar a crítica dói mais quando ela vem daqueles que nos conhecem há muito tempo. Ora, Eliabe era o irmão mais velho de oito irmãos e Davi era o caçula, portanto Eliabe viu Davi nascer, viu Davi crescer, conhecia o caráter de Davi e não obstante tudo isso ele crítica Davi. Ele critica Davi não porque o desconhece mas porque o conhece. Crítica-o não pelos seus defeitos mas pelas suas virtudes. O que incomoda o crítico não são seus erros, são seus acertos; não é a sua covardia é a sua coragem.
Mas em terceiro lugar as críticas doem mais quando elas vêm temperadas, envelopadas de ira, de destempero emocional. A Bíblia diz que Eliabe se irou contra Davi, acendeu em ira contra Davi, mas porquê? O que Davi fez? Na verdade Davi não fez nada contra Eliabe, Davi apenas está se dispondo a enfrentar o gigante que Eliabe e seus pares estão fugindo a 40 dias, e portanto Eliabe está irado por uma razão única: ele não pode admitir que outro que não ele receba os louros essa vitória. Se Davi vence o gigante e recebe os aplausos da nação por este feito as glórias da vitória não estariam nas mãos de Eliabe e sim nas mãos de Davi.O critico é aquele que não suporta que a glória de uma vitória seja de outrem que não dele, ele não suporta ver o outro vencer, não suporta ver o outro triunfar, por isso Eliabe está criticando Davi.
Mas em quarto lugar a crítica dói mais quando o crítico é contumaz, quando ele não dá descanso, não da pausa, quando a sua única intenção é atormentar a vida da outra pessoa, porque se você perceber comigo, o texto bíblico escrito no verso 29 é o seguinte: Davi pergunta para o seu irmão – que fiz eu agora? Eu só fiz uma pergunta? O que isso significa? Significa que Eliabe é um crítico contumaz, o que ele mais sabia fazer era criticar e o crítico é aquele que enxerga um cisco no olho do outro mas não enxerga a trave nos seus próprios olhos, o crítico é aquele que não tem coragem de enfrentar os seus próprios problemas, transfere-os para o outro e critica no outro o que deveria tratar em si mesmo. É por isso que Davi pergunta o seguinte: que eu fiz agora, eu só fiz uma pergunta. Isso significa – Eliabe, quando você vai largar do meu pé, quando você vai parar de me criticar, até quando você vai continuar nessa rotina contumaz de me criticar.
Parece que algumas pessoas têm esse ministério na vida – criticar os outros – e você pode fazer tudo certinho a vida inteira e não vem um elogio sequer, mas a primeira coisa que desagradar -lá vem a crítica. Mais ainda, a crítica dói mais quando o crítico tem a síndrome de Deus, é exatamente isso. No resto 28 Eliabe diz assim para Davi: bem conheço a tua presunção e a tua maldade, vieste aqui apenas para espiar a peleja. Veja você que Eliabe está fazendo um juízo de valor, ele está afirmando aquilo que só Deus pode saber que é o que está no coração. É importante entender que muitas vezes o crítico não critica apenas as suas palavras e suas ações mas critica também até as suas intenções, aquilo que é secreto do coração, aquilo que é foro íntimo que só Deus tem o poder de conhecer.
Mas veja você que Eliabe diz que Davi é presunçoso e maldoso. A pergunta é, essa crítica tem algum respaldo? Tem uma base? É procedente? Se você notar comigo no capítulo anterior, o capítulo 16, o profeta Samuel foi enviado à casa de Jessé para ungir um dos filhos de Jessé como Rei sobre Israel. quando Samuel chega na casa de Jessé primeira pessoa que ele encontra é Eliabe – o filho mais velho – um rapaz de porte atlético e diríamos hoje capa de revista ou na linguagem da moçada um rapaz sarado e logo Samuel pensou ‘está aí o ungido do Senhor”, e Deus disse não, não, não, você só está vendo a casca, só o verniz, não é isso não. Todos os outros filhos passaram diante de Samuel e nenhum deles era o escolhido de Deus. Samuel pergunta não tem mais ninguém? Respondem: bom, tem o caçula mas ele está lá nas campinas de Belém, ele é pastor de ovelhas. Em outras palavras a família está dizendo que ele não tem cancha, ele não tem credenciais, ele não tem performance, eu não tem capacidade, ele tá fora da lista. Mas Samuel disse: nós não nos assentaremos à mesa enquanto ele não chegar. Quando Davi chega, com cheiro de ovelha, Deus diz para Samuel: é esse, pode se tornar o azeite na cabeça dele, pode ungir como rei de Israel.
Agora note você que a batalha se desenvolve depois desse fato e agora o pai de Davi diz para ele: você vai levar para os seus irmãos, os comandantes lá da guerra alguns pães, alguns queijos. Se Davi fosse de fato presunçoso ele teria dito o seguinte para o seu pai, “ô pai o senhor não entendeu muito bem o que aconteceu aqui em casa, eu fui ungido rei de Israel, eu não vou me prestar a esse serviço de office-boy, eu preciso cuidar da minha reputação, da minha imagem, o senhor quer mandar alguma coisa lá então chame outro, eu não posso ir para essa função, não, eu vou me rebaixar demais”. Portanto quando Davi aceita o papel e a ordem do pai de levar pães e queijos para os seus irmãos na batalha ele não é presunçoso, ele não é maldoso, ele é humilde.
É mas o crítico é capaz de transformar suas virtudes em defeitos, o crítico não suporta as suas virtudes. O que mais incomoda os seus críticos não são seus pecados, não são seus defeitos, são as suas virtudes. É como aquela história do vagalume e da cobra. A cobra persegue o vagalume, persegue o vagalume, persegue o vagalume, e o vagalume pulando aqui, pulando dali pulando acolá, até que o vagalume para e pergunta: mas por que que a senhora quer me destruir? Pergunta o vagalume à cobra . Eu fiz algum mal? Eu faço parte da sua cadeira de alimentação? E a cobra responde: não, nada disso. Estou perseguindo você porque eu não tolero ver você brilhar. Esse é o problema crítico, ele tem a síndrome de Deus e ataca até aquilo que ele não pode ver e não pode sondar.
Mas ainda, a crítica dói mais quando ela visa humilhar você em público. Eliabe pergunta para Davi assim no verso 28: Davi, com quem você deixou aquelas poucas ovelhas no deserto? O que está por trás disso? O que Eliabe está dizendo para Davi é o seguinte: Davi você não passa de um pastorzinho de poucas ovelhas lá do deserto e vem aqui querer dar uma de valentão, enfrentar um gigante que tem um exército inteiro fugindo dele. Quem é você, menino, recolha-se à sua insignificância. Qual era a intenção de Eliabe? Era humilhar Davi em público, era humilhar Davi diante dos soldados de Israel, era colocar Davi debaixo da sola das suas bota. Esse é o papel do crítico contumaz, impiedoso. Ele quer destruir a imagem do outro para ele se sentir melhor, para ele se sentir maior.
O que você vai fazer com os críticos? Davi nos ensina uma lição preciosa, está escrito no versículo 30, confira comigo: respondeu Davi, que fiz eu agora? Fiz somente uma pergunta. Versículo 30: Desviou-se dele para outro. Preste atenção nisso: Se você escutar esses críticos que querem te destruir, você vai perder o sono, o apetite, a paz, o foco. Qual o seu papel? Desviar do crítico para outro. Não permita que o crítico monopolise você, não permita que o crítico destrua as suas emoções, a sua alma. Não permita que ele roube a sua alegria, sua paz, o seu foco. Você não foi chamado para gastar seu tempo com os críticos, você foi chamado para vencer o seu gigante.
Então chegou a hora de você tomar uma decisão de se libertar daqueles críticos contumazes que não querem o seu bem mas querem destruir a sua vida. Não gaste tempo com eles, não perca tempo com eles, não perca o foco por causa deles, concentre-se naquilo que Deus chamou você para fazer. Talvez você tenha enfrentado algumas situações difíceis de alguns críticos de algumas crítica. A crítica quando vem com boa intenção é boa, diz a bíblia. As feridas feitas pelo amigo trazem cura para nós. Eles nos confrontam em secreto e nos defendem em público mas o crítico não ele quer destruir a sua imagem em público para se sentir melhor.
Rev. Hernandes Dias Lopes