Ao mestre de canto, para flautas, Salmo de Davi.
Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras
e acode ao meu gemido.
Escuta, Rei meu e Deus meu, a minha voz que clama,
pois a ti é que imploro.
De manhã, Senhor, ouves a minha voz;
de manhã te apresento a minha oração e fico esperando.
(Salmos 5:1-3)

Davi foi um homem de oração. Um guerreiro, um homem que foi forjado na bigorna do sofrimento, foi escolhido como rei de Israel ainda muito jovem, sendo filho caçula de Jessé. Entretanto, quando Samuel derrama o azeite sobre a sua cabeça, ungindo-o como rei, ele não subiu ao trono. Deus o matriculou na escola do sofrimento. E, por mais de 10 anos, Davi precisa fugir pelas cidades, pelas cavernas, pelos desertos inóspitos, fugindo da fúria insana de seu sogro, o Rei Saul.

Nesse tempo Deus está usando Saul para arrancar do coração de Davi uma espécie de Saul interno, a fim de que Davi não assumisse o trono e fosse um “Saul 2”. Mas, nessa trajetória toda, de muitas fugas, de muitos escapes, de muitos livramentos, Davi aprendeu a confiar em Deus; a orar a Deus. Ao longo da sua vida, ele ele enfrentou muitos problemas, muitas lutas, muitas pressões, muitas batalhas. E, nas horas mais difíceis, como que encurralado, entrincheirado por inimigos ferozes, ele buscava a Deus em oração.

Parece-me que o contexto do Salmo 5, é quando Davi está sofrendo a mais amarga batalha da vida, quando o seu próprio filho, Absalão, rebela-se contra o pai, forma um exército opositor ao pai, marcha para Jerusalém para matar o pai e tomar o trono do pai, e Davi precisa fugir à pé, de noite, descalço, para viver no deserto, fugindo de seu filho que queria matá-lo.

É nessa conjuntura que Davi encontra em Deus o seu refúgio e começa a orar. E, aqui temos alguns princípios de uma oração eficaz.

Primeiramente, vejamos o que é orar. No verso 1, ele diz assim: “Dá ouvidos, Senhor , às minhas palavras e acode ao meu gemido.” Você ora de duas maneiras: você ora com palavras articuladas e você ora com palavras inarticuladas, apenas com solfejos, com gemidos.

Há momentos que as nossas orações não são verbalizadas. Há horas em que a batalha é tão renhida, a dor é tão profunda, a angústia é tão avassaladora, que as palavras não brotam; então você geme.

Na verdade, as palavras são apenas o adorno da nossa oração. Talvez as orações mais eficazes que fazemos não são aquelas que nós proferimos; são aquelas que brotam da alma como gemidos inexprimíveis. A Bíblia fala de Ana, por exemplo, que orava com a angústia de alma; apenas seus lábios se moviam, e não se ouvia a voz nenhuma. Mas a Bíblia diz também que, nessa hora, ela estava derramando a sua alma diante de Deus e foi esta oração que Deus ouviu, e foi por esta oração que Deus fez um milagre na sua vida.

Talvez você esteja passando por um vale tão escuro que você não consegue mais falar, apenas gemer. Mas, se há gemidos, há oração; a oração que Deus ouve, que Deus escuta, na mediação do seu filho Jesus Cristo.

A segunda coisa que eu quero destacar é a quem devemos orar. O verso 2 diz assim: “Escuta, Rei meu e Deus meu, a minha voz que clama, pois a ti é que imploro.”

Nós não estamos orando apenas para nos sentirmos bem. Não é apenas uma calmaria que vem em virtude de estamos falando, expondo o nosso sentimento. Você não está se dirigindo a um ídolo, a uma energia, ao achar que o universo todo é Deus, como a filosofia panteísta prega. Não. Davi está orando àquele que ele chama de “Rei Meu e Deus meu”. Davi compreende que Deus não é apenas Deus, ele é o Rei. Ele [Davi] é rei em Jerusalém, mas Deus é o Rei dos reis, o que está sentado no trono, que tem as rédeas nas mãos, o controle da história nas mãos, aquele que tem poder para reverter as situações irremediáveis da história. Ele é aquele que levanta reinos abate reinos; levanta reis, e faz reis apearem do Poder.

Mas, note que Davi não se dirige a Deus apenas como “Rei”, mas como “Rei meu e Deus meu”. Ele está orando ao Deus da Aliança. Uma coisa é você reconhecer que Deus é Deus, que ele é Soberano, que ele é Absoluto, que ele é Onipotente, Onipresente, Onisciente, Transcendente, Soberano. Outra coisa, é você crer que este Deus é o seu Deus, que você tem uma aliança com ele, que ele é o Deus da sua vida e que você confia nele, como Davi expressou no Salmo 23: “O Senhor é o meu pastor nada me faltará”.

Você pode dizer também que Deus é o seu Deus? Você tem essa plena confiança nele? Você já creu de todo o seu coração em Jesus Cristo, seu Filho? Você tem a garantia de que o seu nome está escrito no livro da vida e que você tem dentro de você o selo do Espírito Santo? Você já desfruta desta convicção, desta alegria e desta certeza inabalável de que Deus é o seu Rei, e ele é o seu Deus, o Deus da Aliança? Isto é orar eficazmente: você se dirigir ao Deus da sua vida.

Mas, me permita destacar uma terceira verdade; agora é quando orar. Ele diz assim: “de manhã ouves a minha voz de manhã te apresento a minha oração”.

Veja você que, Davi entende que Deus deva ser buscado nas primeiras horas do dia. Lutero costumava dizer que tinha tanta coisa para fazer, que se ele não orasse duas horas pela manhã, ele perdia o seu dia. Ainda dizia Lutero: “Quem ora bem, trabalha bem”.

Você tem buscado a Deus logo de manhã? Quando você acorda, sua mente se volta para Deus? Você busca o Deus Todo-Poderoso? Não apenas como aquele que vai atender os seus pedidos, atender suas necessidades, trazer solução para os seus problemas, mas você vai buscá-lo de manhã porque você anseia estar com ele, você tem prazer e deleite na intimidade com ele, você ama estar na presença dele e ele é a grande alegria, a fonte de todo o prazer da sua alma? Você se deleita nele? Ele é o tesouro maior da sua vida? Ele é a sua alegria, a sua justiça, a sua paz, a sua herança, a sua recompensa?

Davi não entende que Deus é apenas um despachante de bençãos celestiais, mas o Refúgio da sua alma, em quem ele tem todo o seu prazer. Logo de manhã ele busca o Senhor.

Mas veja que a expressão que ele coloca aqui: “de manhã te apresento a minha oração”, é um termo militar. É como se ele colocasse as suas orações numa ordem de batalha. Davi entende que oração é luta espiritual. Ele precisa ordenar sua vida de oração, porque ele está enfrentando lutas maiores que suas forças. Por isso, ele precisa colocar nesta ordem de batalha as suas orações logo de manhã.

Você tem uma vida de oração? Você tem propósitos na oração? Você tem colocado diante de Deus as suas causas? Você tem intercedido pela sua vida, pelo seu casamento, pelos seus filhos pelos seus parentes, pelos seus vizinhos, pelos seus colegas de trabalho?

Você tem orado pelas instituições e por aqueles que estão investidos de autoridade? Você tem orado pela paz de Israel? Você tem orado pelas nações? Você tem orado para o avanço do Reino de Deus? Você tem orado para que o evangelho possa impactar a nação brasileira e transformar a tessitura desta nação? Você tem colocado em ordem de batalha as suas súplicas?

Já vimos (1) o que orar, (2) a quem orar, e, (3) quando orar. Mas, me permita agora a última colocação. A quarta colocação que eu quero fazer é: o que fazer depois de orar. Davi Diz assim: “de manhã senhor ouve a minha voz de manhã te apresento a minha oração e fico esperando”.

Orar sem esperar a resposta não é orar. Orar não é apenas você jogar para fora da sua alma os seus desejos, as suas súplicas, ou expor as suas necessidades. Orar é você falar com aquele que está no trono, e que, ao ouvir suas orações, responde as suas orações. Orar é quando você apresenta o seu pedido para Deus e diz: “Deus, eu estou aqui, aguardando a resposta”.

Orar é fazer como Habacuque, que diante do seu clamor a Deus, subiu para a torre de vigia, aguardando a resposta de Deus. Porque quem não aguarda a resposta de Deus, já desistiu da sua confiança; não orou de fato.

Você tem recebido resposta às suas orações? Você tem clamado a Deus e tem anotado como Deus respondeu, quando Deus respondeu, de que forma essas orações foram respondidas? Você tem apresentado a Deus a sua causa, a sua vida, o seu coração, a sua saúde, as suas finanças, o seu casamento, a sua família? Você tem apresentado a Deus os seus sonhos, os seus projetos, os desejos e anelos da sua alma? Tem recebido resposta? Tem aguardado resposta? Tem visto a manifestação do bom sinal do favor de Deus na sua vida?

Rev. Hernandes Dias Lopes

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