Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações. Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.
(Tiago 1:1-4)
Este Tiago mencionado aqui, não é o apóstolo. O Tiago, apóstolo, irmão de João, foi assassinado em Jerusalém por ordem do Rei Agripa I. Este Tiago aqui, é o Tiago irmão de Jesus, filho de José e Maria, que até a ressurreição de Cristo não acreditava nele. Converteu-se após a ressurreição de Cristo e tornou-se um dos líderes da igreja de Jerusalém.
Aquele tempo era um tempo difícil, de amarga perseguição, de um império ditatorial e truculento. Naquele tempo os cristãos foram perseguidos, seus bens foram confiscados, suas casas foram tomadas, a liberdade do povo foi surupiada e as doze tribos de Israel ficaram na dispersão. É para esse povo desprovido de seus bens e de sua liberdade que Tiago escreve para tratar das provações da vida.
Aqui encontramos um incrédulo se transformando num crente; um povo especial que não tem imunidade especial, porque passa por amargas provações. Tantas vezes nós temos dificuldades de conciliar o fato de sermos amados por Deus, remidos pelo sangue de Jesus, habitados pelo Espírito Santo e passarmos, ao mesmo tempo, as mais doídas provações.
Há pessoas que não conseguem conjugar isso com o amor de Deus. Há teologias vesgas que dizem que, se você é um cristão de fato, você não pode ter provações, lutas, dores, sofrimentos, perdas, o que não é verdade. Então, convido você a olhar para esse texto de Tiago 1.1-4, para extrairmos aqui algumas importantes lições para a nossa vida.
A primeira grande lição que o texto nos oferece é que as provações da vida são compatíveis com a fé cristã. Veja você, que eles são cristãos, mas estão passando por várias provações; eles são cristão, mas estão dispersos. Dispersão aqui, significa que eles não estão onde gostariam de estar; eles não só perderam suas casas, suas propriedades seus bens, mas perderam também a sua liberdade. Eles andam como forasteiros, como peregrinos, privados do mais sagrado dos direitos: o direito da liberdade.
Então, quem está sendo provado aqui, não são os ímpios, não são os perversos, não são aqueles que blasfemam do nome de Deus ou se curvam diante falsos Deuses. Quem está passando por esta prova aqui, são aqueles que conhecem a Deus, amam a Deus e, não obstante a esse fato, estão sendo duramente provados.
Mas há uma segunda verdade nesse texto. As provações não são apenas compatíveis com a fé, mas elas também são variadas. O verso 2 diz: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações.” Não era uma provação única. Não era apenas uma provação leve. Eram várias provações.
Destaco o fato de que, a palavra “várias” na língua grega, é a bela, belíssima palavra poikilos (ποικίλος), de onde vem a nossa palavra portuguesa “policromático” (de diversas cores, diversos matizes). Isso significa que, na vida, nós passamos por situações adversas; algumas leves, outras medianas, outras pesadas, outras pesadíssimas. Há provações cor cinza, mas há provações tenebrosas.
Esta era uma delas: essas 12 tribos estão dispersas, arrancadas do seu lar, da sua pátria, do seu chão, da sua bandeira, das suas crenças, lá do Templo de Jerusalém, para serem espalhados pelo mundo. E, desta forma, eles estavam enfrentando provações tenebrosas, amargas, que violavam o direito de propriedade, que violavam a liberdade de expressar livremente a sua fé (porque eles estão dispersos não por aquilo que cometeram de errado, mas simplesmente por serem cristãos).
Mundo afora hoje, há muitos irmãos nossos que estão sendo presos, estão sendo torturados, estão sendo mortos, estão sendo caçados, seus bens estão sendo confiscados, não porque cometeram crimes, mas pela sua fé, pelas suas convicções, pela defesa que têm de valores e princípios inegociáveis. São pessoas que não se dobraram, não se renderam, à ditadura do ateísmo ou de ideologias nefastas que levam as pessoas à escravidão. Esses, das 12 tribos, estão enfrentando esse tipo de luta em virtude da sua fé.
Mas, em terceiro lugar as provações não são apenas compatíveis com a fé e não apenas variadas, elas são também passageiras. Louvado seja Deus! O verso 2 diz assim: “Meus irmãos tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações”. O texto não diz “o ficardes”, mas, “o passardes”. É claro que há provações que passam rápido, que vêm ,que vão e que passam. Há outras que permanecem um pouco mais de tempo. Há outras que, com as suas garras afiadas, enfiam as unhas em nós, e são difíceis de serem desgrudadas, arrancadas.
Mas eu quero lhe dizer que as provações são passageiras. Por umas delas nós passamos de avião supersônico; por outras de carro de Fórmula 1; de outras provações conseguimos sair rápido como um carro de corrida; outras, passamos correndo como atleta; há provações que você passa por elas caminhando lentamente; há outras que você parece que está se arrastando, mas você vai passar. Ainda que ao longo da nossa vida aqui elas ficam conosco, nós entraremos no reino de glória de Deus, onde não há mais lágrima, onde não há mais dor, onde não há mais luto, onde não há mais pecado, onde não há mais opressão.
O apóstolo Paulo, que viveu momentos tão difíceis na vida porque foi perseguido em Damasco, foi açoitado em Filipos, foi escorraçado de Tessalônica, foi enxotado de Bereia, foi chamado de tagarela em Atenas, de impostor em Corinto, enfrentou feras em Éfeso, foi preso em Jerusalém foi acusado em cesareia enfrentou um naufrágio a caminho de Roma, e que chega em Roma algemado, passou por tantas e tantas provações! Depois, o apóstolo foi preso, e por uma segunda vez, foi preso em Roma, foi sentenciado à morte e, no corredor da morte, foi degolado. Mas ele disse: “a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória acima de toda a comparação”. Diante da Glória Eterna, as lutas da vida aqui são breves, são leves, são passageiras.
Mas notem comigo, em quarto lugar, que as provações da vida além de compatíveis com a fé cristã, além de variadas, além de passageiras, são também pedagógicas. Porque está escrito o seguinte no verso 3: “sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.”
O que Tiago está dizendo aqui, é que toda a provação que nós enfrentamos na vida tem um propósito maior, divino. Na verdade, as provas não vêm para nos derrotar; as provas vêm para nos aprovar. As provas não vêm para destruir nossa vida, mas para tonificar as musculaturas da nossa alma. As provas não vêm para nos levar ao naufrágio; as provas vêm para aumentar a nossa fé. Na verdade, o que Tiago está dizendo, é que estas provações, uma vez confirmadas, vão produzir perseverança. Essa palavra na língua grega (perseverança) significa “paciência triunfadora”. Você vai entender que, mesmo pressionado, perseguido, acuado, tendo seus direitos lesados, Deus vai reverter tudo isso em benção para a sua vida, porque ele está esculpindo em você a beleza de Jesus para que você chegue à plenitude da estatura do Varão Perfeito, que é Cristo Jesus.
Talvez você pergunte: “Mas como é que nós vamos enfrentar uma situação dessa de luta, de choro, de injustiça, de dor?” (realidade que nós vivemos aqui no Brasil tantas vezes). Como é que nós vamos enfrentar? Tiago responde: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações”. É claro que você e eu jamais conseguimos lidar com injustiças com sorriso nos lábios. Às vezes é o choro, às vezes é a tristeza, às vezes é a dor; mas Tiago está dizendo para você olhar além das circunstâncias, além dos opressores, e entender que, ainda que os homens maus governem, legislem, julguem, ainda que você seja vítima de um sistema que massacra você, entenda uma coisa: Deus está no controle. Deus reina. Deus está no trono. A história não está à deriva; ele vai conduzir a história à sua consumação final e à vitória de Cristo e da sua Igreja.
Quando você olha para esta soberania de Deus que tem o controle de tudo e de todos, você pode ter uma alegria indizível e cheia de glória; você pode ter uma paz que excede todo entendimento; você pode ser revestido com toda suprema grandeza do poder de Deus.
Rev. Hernandes Dias Lopes