“Tira a minha alma do cárcere, para que o Dê graças ao teu nome; o justos me rodearão, quando me fizeres esse bem.” (Salmos 142.7)
A depressão é um dos problemas mais sérios que atingem a população brasileira. Ela atinge pessoas de todos os estratos sociais, de todas as faixas etárias, de todos os credos religiosos.
A depressão atinge hoje cerca de 10% da população. Há depressões mais leves, outras médias, mas há depressões pesadas.
A depressão tem sido a principal causa do suicídio. O grande drama, do enfrentamento deste problema social e de saúde, é que nem sempre esse assunto está claro na mente das pessoas.
Há aqueles que olham para a depressão como T. L. Osborn (um grande pregador neopentecostal) que, nas suas obras diz que a depressão é demônio. Para ele, uma pessoa deprimida está sob o ataque, o efeito de seres malignos que oprimem sua mente.
Já em outra vertente, num outro extremo, há pregadores de linha tradicional reformada, que acreditam e defendem a tese de que depressão é pecado. Se uma pessoa está enfrentando uma depressão, é porque tem alguma coisa errada na sua vida, ou algum pecado escondido, inconfesso, e isso desemboca nessa crise, ou nesse problema chamado depressão.
É claro que uma depressão pode ter como origem um problema espiritual, seja uma opressão demoníaca, uma possessão demoníaca, ou envolvimento com ocultismo. Também, uma depressão pode decorrer de um pecado escondido, inconfesso. Parece-nos que a Bíblia aponta para isso nos salmos 32, 38 e 51, quando Davi, ao confessar o seu pecado de adultério e assassinato, em virtude de coabitar com a mulher de Urias, soldado de Israel, e tentar ocultar o problema porque a mulher ficou grávida enquanto o marido estava no campo de guerra. Davi usa de muitos artifícios para trazer Urias da guerra, a fim de que ele volte para casa e coabite com a sua mulher, ocultando assim o seu próprio crime. Como Urias não fez o que Davi planejou, ele toma a decisão de matá-lo com a espada dos amonitas.
Davi guarda esse pecado, esconde esse pecado. Ele disse que, enquanto ele calou os seus pecados, envelheceram os seus ossos pelos seus constantes gemidos. Ele alagava o seu leito, seus ossos foram ardendo, seu vigor foi secando, ele foi desidratando emocionalmente. Até que foi confrontado, se arrependeu, Deus perdoou, mas não tirou as consequências do seu erro.
Quando eu olho para a questão da depressão, talvez pudéssemos definir isso melhor. Andrew Solomon escreveu um livro traduzido para o português, chamado “Demônio do meio-dia”. Nesse livro, Andrew Solomon diz que depressão é como vestir uma roupa de madeira, depressão é como você engolir o seu próprio funeral, depressão é quando a pessoa se vê num beco sem saída, num quarto escuro sem janela, numa situação de entrincheiramento, sem ver uma porta de escape.
É por isso que, as pessoas quando enfrentam a depressão severa, elas flertam com suicídio. Na verdade, elas elas não querem morrer; elas querem viver. Mas, a angústia que elas estão enfrentando é tão avassaladora, que elas não vêem saída e acham que a morte seria a única saída honrosa para essa situação em que elas se encontram.
É claro que isso é um engodo; porque a morte não é o fim da linha, a morte não é o fim da existência. O homem não é um ser apenas físico-material; o homem é um ser físico-espiritual. Diz a Bíblia que Deus criou o homem do pó da terra, soprou em suas narinas o fôlego da vida e ele passou a ser alma vivente. De tal maneira que, aquela ideia de que se eu tirar a minha própria vida eu estarei resolvendo problema, é um equívoco, um engodo. Então, flertar com a morte, saltar no abismo da morte para tentar resolver um problema de angústia ou de depressão, é uma armadilha muito perigosa.
Como é que se resolve isso? Como é que se trata a depressão?
Esse próprio autor americano que eu citei, Andrew Solomon, acompanhando hoje todo o avanço da medicina no tratamento desta matéria, chega à conclusão de que deve-se lidar com a depressão através de remédios, terapia e fé.
É necessário entender que depressão é uma doença; e, como tal, precisa de tratamento adequado. O médico que cuida disso, é um psiquiatra. E é preciso encontrar o remédio certo, na dosagem certa, para que haja eficácia no tratamento. Eu não posso espiritualizar a depressão.
Como pastor, eu não posso receber no meu gabinete pastoral uma pessoa que está enfrentando uma crise depressiva e dizer para ela que ela precisa orar mais, ou ler mais a Bíblia, jejuar, ou vir mais à igreja a fim de resolver o seu problema. Essas coisas, são coisas boas e, necessárias até.
Mas, me permita comparar com outra situação: Imagine que eu receba no meu gabinete alguém que diz estar sentindo uma forte dor no peito e que esteja com a pressão arterial muito alta. Se eu disser para esta pessoa que ela tem de ler mais a Bíblia, orar mais, jejuar mais, como se isso fosse a solução do problema dela, eu estaria maquiando o problema, e não resolvendo a situação daquela pessoa. Eu diria para esta pessoa que é necessário agendar o quanto antes uma consulta com o cardiologista a fim de que ela faça uma série de exames para verificar o problema. Orar, jejuar, ir à igreja, é necessário. Mas é necessário também que o seu problema seja enfrentado, porque é uma doença cardiológica que precisa de tratamento adequado. Assim também é uma depressão.
Essa pessoa precisa de ajuda médica.
É claro que vem o acompanhamento através de uma terapia, através de um bom aconselhamento bíblico, através de um conselheiro sábio e maduro. É claro que essa pessoa precisa também de esperança, e daí, é necessária a fé, porque é com Deus que devemos nos apegar na hora da angústia. Por isso que o salmista diz: “tira, Senhor a minha alma do cárcere para que eu louve o teu nome”.
Talvez nós pudéssemos olhar, por exemplo, a figura do profeta Elias; porque gente de Deus, gente cheia do Espírito Santo pode ficar deprimida, ssim como uma pessoa cheia do Espírito Santo pode ter um problema cardíaco, um problema de estômago, problema renal. Então, nós não podemos achar que do pescoço para cima somos uma coisa, e do pescoço para baixo somos outra. Nós somos um ser integral!
Quando eu olho para as Escrituras, eu vejo homens de Deus que chegaram a um estado tal de estresse, ou depressivo, que pensaram na morte, pediram a morte. Você encontra isso em Moisés, você encontra isso em Elias, você encontra isso em Jonas. Às vezes a angústia é tamanha, que as pessoas ficam desesperadas. São pressões que esmagam, que achataram, que faz com que essas pessoas precisem de ajuda.
Elias, depois de retumbantes vitórias, foge de Jezabel e enfrenta uma crise que eu chamaria de uma crise depressiva. Ele pede para si a morte. As leituras que ele faz da vida são enviesadas. Ele olha para o cenário, e diz: “Eu fiquei sozinho; não há mais ninguém. Eu sou a última reserva moral e espiritual da nação.” E Deus diz: “Não, meu filho, você está fazendo uma leitura errada; você está lendo com os óculos escuros do pessimismo. Há 7 mil que não dobraram o seu joelhos diante de Baal.”
Elias olha para o futuro e diz: “Não tem futuro. Acabou! Eu quero morrer! Não tem mais ministério”. E Deus diz: “Não, meu filho. Não acabou. Você vai ungir um profeta em seu lugar, você vai ungir um rei na Síria, um rei em Israel. A sua missão não terminou. Você tem ministério. Eu vou restaurar sua alma.” Elias queria morrer, e Deus diz: “Não; você nem morrer vai. Eu vou te levar para o céu sem passar pela morte.”
Como é que Deus tratou a depressão de Elias?
Primeiro; sonoterapia: Colocou-o para dormir.
Segundo; uma boa refeição: Colocou-o para comer.
Terceiro; mandou ele sair da caverna, e disse: “Que fazes aí Elias?”. Em outras palavras: “Vem para fora; vem para cá; abre o bico; destranca a caixa de ferramentas; abre a câmara de horror; joga para fora aquilo que está consumindo você por dentro. O desabafo é necessário!
Então, Deus fez toda essa tratativa com Elias para tirá-lo daquela cova profunda, daquele poço escuro, daquela caverna sombria em que ele estava; não só fisicamente, mas também emocionalmente.
A oração do salmista é necessária: “Tira, Senhor, a minha alma do cárcere”. Talvez você está lidando com uma depressão; talvez você tenha alguém da sua família que está lidando com a depressão. Eu quero dizer que essa pessoa (se é você, ou alguém da sua casa, ou um amigo próximo) precisa de ajuda. Ajuda profissional, ajuda espiritual. A depressão é cíclica; ela vai passar. O sol vai voltar a brilhar. A brisa fresca vai tocar no seu rosto outra vez. A esperança virá. E é Jesus a nossa esperança. É Jesus o nosso socorro. É Jesus quem tira a nossa alma do cárcere.
É hora de você se voltar para Deus; é hora de você colocar sua vida nas mãos de Deus; é hora de você parar de flertar com a morte; é hora de você entender que a vida é bonita, é bela, é um dom de Deus. E só Deus, que é o Autor da vida, tem o direito e o poder de tirar a vida. Então, acabe com esses pensamentos de morte, invista na sua vida, procure ajuda, procure tratamento, e essa situação vai passar em nome de Jesus.
Rev. Hernandes Dias Lopes