“No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia, Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da região da Itureia e Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto. Ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados, conforme está escrito no livro das palavras do profeta Isaías:
Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Todo vale será aterrado, e nivelados todos os montes e outeiros; os caminhos tortuosos serão retificados, e os escabrosos, aplanados; e toda carne verá a salvação de Deus.” Lucas 3.1-6

João Batista é considerado a dobradiça da Bíblia. Ele fecha o Velho Testamento e abre as cortinas do Novo Testamento. O Velho Testamento fecha suas páginas 400 anos antes de Cristo e João Batista, o precursor do Messias, abre as janelas da revelação divina nas páginas do Novo Testamento.

O propósito de Lucas ao nos introduzir o precursor do Messias é traçar um cenário do mundo político e religioso onde ele surgiu. E Lucas relata para nós, em primeiro lugar, o cenário geral do Império Romano porque era o décimo quinto ano de Tibério César. Ele começou a reinar no ano 14 depois de Cristo até o ano 37 depois de Cristo, portanto nós estamos falando que João Batista surge no ano 29 da era Cristã. E Tibério César era filho adotivo de César Augusto e este é o imperador romano da época, quando Jesus morreu, e Jesus disse acerca dele: dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Na Província governava a Judeia – Pôncio Pilatos, e nas outras tetraquias, os filhos de Herodes – o grande.

Ou seja, o cenário político era marcado por homens que tinham o braço de ferro, a mão pesada para subjugar para escravizar províncias e povos. E aqui em Israel o cenário era de homens perversos tanto quanto o pai – Herodes, o grande – fora no seu tempo. O cenário religioso não era melhor, era cinzento também, porque somos informados no versículo de número 2: sendo sumo sacerdotes Anás e Caifás. Olha só, tinha um sumo sacerdote. A presença de dois, concomitantemente, já era um desvio da fidelidade daquele tempo no que tange à religião. Esse já era um cargo comprado a peso de ouro, desvio da verdadeira fé do povo Judeu.

Pois é, nesse cenário corrompido de violência, de apostasia, de crise medonha, está escrito: veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias. no deserto. Quando você pensa que a situação é irremediável, quando a crise mostra a sua carranca medonha, quando o cenário é de desespero, Deus pode entrar na história, interferir nos acontecimentos da história, virar a mesa da história e criar um fato novo. Esperamos avivamento dos nossos dias apesar da crise que está aí mostrando a sua carranca.

Quem foi este homem? Ele era um homem estranho, vestindo roupa estranha, se alimentando de comida estranha, pregando num lugar estranho (deserto da Judeia montes rochosos, cascalhos de pedra, areias esbranzeantes, um lugar inóspito, quente de dia, gelado de noite). Diz a bíblia que ele sai pregando e percorrendo toda a circunvizinhança do Jordão, pregando o quê? Batismo de arrependimento para remissão de pecados. Nesse período, de Malaquias a João Batista, são 400 anos de silêncio profético – tem templo tem festa tem cerimônias tem sacrifícios – mas não tem palavra de Deus.

Depois de 400 anos, quando veio a palavra de Deus a João, ele não prega amenidades, ele não é um alfaiate do efêmero, ele é um escultor do eterno, e ele prega batismo de arrependimento para remissão de pecados. Em outras palavras, não tem perdão a não ser que haja arrependimento.

Ele não prega uma mensagem palatável, ele não usa o método do politicamente correto, ele não tem qualquer intenção de agradar o seu auditório, ele confronta o seu auditório, porque as multidões fluem no deserto.

Porém João Batista inventou essa mensagem? Ele é a fonte da mensagem? Não! Ele prega isso conforme está escrito no livro do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto, preparai o caminho do Senhor! Em outras palavras, João Batista não é a fonte da mensagem, ele é o servo da mensagem. Ele não cria a mensagem, ele transmite a mensagem. A mensagem não é dele, a mensagem é de Deus. Da mesma forma, hoje, os pregadores não criam a mensagem. Ele não pode tirar essa mensagem da sua própria cabeça, ele tem que abrir a escritura e expor a escritura. Deus não tem nenhum compromisso com a palavra do pregador, Deus tem compromisso com a sua palavra. A promessa de que não volta vazia não é a palavra do pregador, é a palavra de Deus.

Mas na pregação de João Batista há uma mudança profunda que ela produz quando ele diz assim: endireitai o caminho do Senhor para que ele se manifeste. João Batista é uma espécie de engenheiro de trânsito do reino. Quanda os imperadores iam visitar as províncias mais longínquas do império, mandava os seus engenheiros preparar a estrada, preparar o caminho, para que Ele pudesse passar com a sua comitiva. Então o texto usa esta figura de linguagem para dizer que nós precisamos preparar o nosso coração, a nossa vida, para que o Senhor se manifeste. Não podemos ser um obstáculo, mas um caminho aberto, franqueado para o senhor se manifestar.

E aí o texto diz assim: todo vale será aterrado, todo monte será nivelado, todo o caminho torto, será endireitado e todo o caminho escabroso será aplainado, e assim toda a carne verá a salvação de Deus. O que significa? O que é um vale? É uma depressão, é um buraco separando dois montes. Quando a palavra de Deus – poderosa – entra na sua vida, as crateras da alma, os fossos escuros da alma, ou aquele vale que separa as pessoas com mágoas e ressentimentos, tudo isso é aterrado para que o Senhor se manifeste. Os montes e outeiros serão nivelados. O que é monte? Monte trata de incredulidade, de soberba, de arrogância. Quando a palavra de Deus chega, não tem mais disputa na feira da vaidade, todos precisam ser nivelados no mesmo padrão: somos todos servos.

O que que significa o caminho torto, sendo endireitado? Caminho torto fala de vida dupla, de hipocrisia, de duplicidade. Quando a palavra de Deus, poderosa, chega transformadoramente, ela tira as máscaras, arranca os véus e mostra a necessidade de viver na luz, na verdade. O que significa os caminhos escabrosos? A palavra significa fora do lugar. O que está fora do lugar da sua vida? Sua vida pessoal, seu casamento? Sua família, seus negócios, seu coração, suas doutrinas? Quando a palavra de Deus chega, tudo que está fora do lugar precisa ser colocado no lugar, então toda carne verá a salvação de Deus.

Quando você olha para esse cenário você vai ver que as multidões estão ouvindo João Batista, os publicanos estão ouvindo João Batista, os soldados estão ouvindo João Batista, ou seja, a igreja de Deus não é a igreja de classe média ou a igreja dos pobres – não tem acepção de pessoas – a igreja de Deus é um lugar para todos virem, ela é aberta para todos, mas não é aberta para tudo. Ela é aberta para o ser humano, mas não é aberta para o pecado. Na igreja de Deus você tem o mais rico e o mais pobre sentado lado a lado, e eles são absolutamente iguais. Na igreja de Deus você tem o maior empresário da cidade, que é um diácono, e está carregando cadeira para o pedreiro sentar-se, nenhum é mais importante do que o outro. Deus não faz acepção de pessoas, todos são importantes para ele.

Diante do poder desta pregação, diz o texto que as multidões perguntam para João Batista: que que nós vamos fazer diante desta pregação? Ele diz assim: quem tem duas túnicas, dê uma para quem não tem. Quem tiver comida, faça o mesmo. A generosidade não é o caminho aberto para o céu, ninguém é salvo porque é generoso, mas se você é salvo pela graça você é generoso. A generosidade é uma evidência do verdadeiro arrependimento.

Então vieram os publicanos e perguntaram: e nós, o que vamos fazer? João Batista respondeu assim: não cobreis mais do que o estipulado. Naquela época os publicanos faziam parte da chamada Receita Federal do Império Romano. Não tinha toda a estrutura que nós temos hoje então o Império Romano dava uma concessão para alguém levantar os impostos daquela região, repassando aos cofres de Roma o valor definido. Mas ele tinha o direito de cobrar o que ele quisesse, e então esses publicanos exploravam o povo, cobravam taxas exorbitantes e o povo trabalhava como que escravo para pagar esses tributos. E ele tá dizendo o seguinte – vocês não devem cobrar mais do que o estipulado. O que ele tá dizendo? A evidência que você é uma pessoa convertida, que você se arrependeu, é se você é honesto nos seus negócios, se você não passa a perna nos outros, você não se aproveita da situação adversa do seu semelhante para explorar ainda mais.

Mas lá estavam os soldados e eles perguntaram: e nós, que vamos fazer? Ele disse: a ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa, contentai-vos com vosso soldo. O que ele tá dizendo para os soldados? Como é que vocês podem provar que vocês são de fato arrependidos, convertidos? É se você não usa a posição que você tem da sua farda para maltratar alguém, é quando você não se mancomuna com esquemas de corrupção lá dos cobradores de impostos para oprimir as pessoas e dar denúncias falsas para oferir a vantagens. É quando você se contenta com seu salário e não busca formas ilícitas para engordar o seu orçamento. Honestidade é evidência de que alguém de fato é convertido.

Na verdade, esse texto mostra para nós que a igreja evangélica brasileira precisa de um choque ético, porque a palavra de Deus, o evangelho, exige e requer mudança, transformação – da vida, do caráter, da família, do trabalho, da sociedade – enfim, a igreja é o sal da terra, a igreja é a luz do mundo. A igreja é embaixadora do céu na terra.

A minha oração e a minha esperança é que este poder transformador da palavra alcance a sua vida, o seu coração, a sua igreja, para que a igreja de Deus no Brasil não seja motivo de chacota e de comentários maliciosos na mídia, mas seja uma referência de um povo que conhece a Deus, anda com Deus e vive uma vida superlativa e abundante para glória de Deus.

Rev. Hernandes Dias Lopes

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